quinta-feira, 1 de setembro de 2011

Casamento

Naquela noite, enquanto minha esposa servia o jantar, eu segurei sua mão e

disse: "Tenho algo importante para te dizer". Ela se sentou e jantou sem

dizer uma palavra. Pude ver sofrimento em seus olhos.

De repente, eu também fiquei sem palavras. No entanto, eu tinha que dizer a

ela o que estava pensando. Eu queria o divórcio. E abordei o assunto

calmamente.

Ela não parecia irritada pelas minhas palavras e simplesmente perguntou em

voz baixa: "Por quê?".

Eu evitei respondê-la, o que a deixou muito brava. Ela jogou os talheres

longe e gritou "você não é homem!" Naquela noite, nós não conversamos mais.

Pude ouvi-la chorando. Eu sabia que ela queria um motivo para o fim do

nosso casamento. Mas eu não tinha uma resposta satisfatória para esta

pergunta. O meu coração não pertencia a ela mais e sim a Jane. Eu

simplesmente não a amava mais, sentia pena dela.

Me sentindo muito culpado, rascunhei um acordo de divórcio, deixando para

ela a casa, nosso carro e 30% das ações da minha empresa.

Ela tomou o papel da minha mão e o rasgou violentamente. A mulher com quem

vivi pelos últimos 10 anos se tornou uma estranha para mim. Eu fiquei com

dó deste desperdício de tempo e energia, mas eu não voltaria atrás do que

disse pois amava a Jane profundamente. Finalmente ela começou a chorar alto

na minha frente, o que já era esperado. Eu me senti libertado enquanto ela

chorava. A minha obsessão por divórcio nas últimas semanas finalmente se

materializava e o fim estava mais perto agora.

No dia seguinte, eu cheguei em casa tarde e a encontrei sentada na mesa

escrevendo. Eu não jantei, fui direto para a cama e dormi imediatamente,

pois estava cansado depois de ter passado o dia com a Jane.

Quando acordei no meio da noite, ela ainda estava sentada à mesa,

escrevendo Eu a ignorei e voltei a dormir.

Na manhã seguinte, ela me apresentou suas condições: ela não queria nada

meu mas pedia um mês de prazo para conceder o divórcio. Ela pediu que

durante os próximos 30 dias a gente tentasse viver juntos de forma mais

natural possível. As suas razões eram simples: o nosso filho faria seus

exames no próximo mês e precisava de um ambiente propício para preparar-se

bem, sem os problemas de ter que lidar com o rompimento de seus pais.

Isso me pareceu razoável, mas ela acrescentou algo mais. Ela me lembrou do

momento em que eu a carreguei para dentro da nossa casa no dia em que nos

casamos e me pediu que durante os próximos 30 dias eu a carregasse para

fora da casa todas as manhãs. Eu então percebi que ela estava completamente

louca mas aceitei sua proposta para não tornar meus próximos dias ainda

mais intoleráveis.

Eu contei para a Jane sobre o pedido da minha esposa e ela riu muito e

achou a idéia totalmente absurda. "Ela pensa que impondo condições assim

vai mudar

alguma coisa; melhor ela encarar a situação e aceitar o divórcio", disse

Jane em tom de gozação.

Minha esposa e eu não tínhamos nenhum contato físico havia muito tempo,

então quando eu a carreguei para fora da casa no primeiro dia, foi

totalmente estranho. Nosso filho nos aplaudiu dizendo "O papai está

carregando a mamãe no colo!" Suas palavras me causaram constrangimento.

Do quarto para a sala, da sala para a porta de entrada da casa, eu devo ter

caminhado uns 10 metros carregando minha esposa no colo. Ela fechou os

olhos e disse baixinho "Não conte para o nosso filho sobre o divórcio" Eu

balancei a cabeça mesmo discordando e então a coloquei no chão assim que

atravessamos a porta de entrada da casa. Ela foi pegar o ônibus para o

trabalho e eu dirigi para o escritório.

No segundo dia, foi mais fácil para nós dois. Ela se apoiou no meu peito,

eu senti o cheiro do perfume que ela usava. Eu então percebi que há muito

tempo não prestava atenção a essa mulher. Ela certamente tinha envelhecido

nestes últimos 10 anos, havia rugas no seu rosto, seu cabelo estava ficando

fino e grisalho. O nosso casamento teve muito impacto nela. Por uns

segundos, cheguei a pensar no que havia feito para ela estar neste estado.

No quarto dia, quando eu a levantei, senti uma certa intimidade maior com o

corpo dela. Esta mulher havia dedicado 10 anos da vida dela a mim.

No quinto dia, a mesma coisa. Eu não disse nada a Jane, mas ficava a cada

dia mais fácil carregá-la do nosso quarto à porta da casa. Talvez meus

músculos estejam mais firmes com o exercício, pensei.

Certa manhã, ela estava tentando escolher um vestido. Ela experimentou uma

série deles, mas não conseguia achar um que servisse. Com um suspiro,

ela disse "Todos os meus vestidos estão grandes para mim". Eu então percebi

que ela realmente havia emagrecido bastante, daí a facilidade em carregá-la

nos últimos dias.

A realidade caiu sobre mim com uma ponta de remorso... ela carrega tanta

dor e tristeza em seu coração..... Instintivamente, eu estiquei o braço e

toquei seus cabelos.

Nosso filho entrou no quarto neste momento e disse "Pai, está na hora de

você carregar a mamãe". Para ele, ver seu pai carregando sua mão todas as

manhãs tornou-se parte da rotina da casa. Minha esposa abraçou nosso filho

e o segurou em seus braços por alguns longos segundos. Eu tive que sair de

perto, temendo mudar de idéia agora que estava tão perto do meu objetivo.

Em seguida, eu a carreguei em meus braços, do quarto para a sala, da sala

para a porta de entrada da casa. Sua mão repousava em meu pescoço. Eu a

segurei firme contra o meu corpo. Lembrei-me do dia do nosso casamento.

Mas o seu corpo tão magro me deixou triste. No último dia, quando eu a

segurei em meus braços, por algum motivo não conseguia mover minhas pernas.

Nosso filho já tinha ido para a escola e eu me vi pronunciando estas

palavras: "Eu não percebi o quanto perdemos a nossa intimidade com o

tempo".

Eu não consegui dirigir para o trabalho.... fui até o meu novo futuro

endereço, saí do carro apressadamente, com medo de mudar de idéia...Subi as

escadas e bati na porta do quarto. A Jane abriu a porta e eu disse a ela

Desculpe, Jane. Eu não quero mais me divorciar".

Ela olhou para mim sem acreditar e tocou na minha testa "Você está com

febre?" Eu tirei sua mão da minha testa e repeti "Desculpe, Jane. Eu não

vou me divorciar. Meu casamento ficou chato porque nós não soubemos

valorizar os pequenos detalhes da nossa vida e não por falta de amor. Agora

eu percebi que desde o dia em que carreguei minha esposa no dia do nosso

casamento para nossa casa, eu devo segurá-la até que a morte nos separe.

A Jane então percebeu que era sério. Me deu um tapa no rosto, bateu a porta

na minha cara e pude ouvi-la chorando compulsivamente. Eu voltei para o

carro e fui trabalhar.

Na loja de flores, no caminho de volta para casa, eu comprei um buquê de

rosas para minha esposa. A atendente me perguntou o que eu gostaria de

escrever no cartão. Eu sorri e escrevi: "Eu te carregarei em meus braços

todas as manhãs até que a morte nos separe".

Naquela noite, quando cheguei em casa, com um buquê de flores na mão e um

grande sorriso no rosto, fui direto para o nosso quarto onde encontrei

minha esposa deitada na cama - morta. Minha esposa estava com câncer e

vinha se tratando a vários meses, mas eu estava muito ocupado com a Jane

para perceber que havia algo errado com ela.

Ela sabia que morreria em breve e quis poupar nosso filho dos efeitos de um

divórcio - e prolongou a nossa vida juntos proporcionando ao nosso filho a

imagem de nós dois juntos toda manhã. Pelo menos aos olhos do meu filho, eu

sou um marido carinhoso.

Os pequenos detalhes de nossa vida são o que realmente contam num

relacionamento. Não é a mansão, o carro, as propriedades, o dinheiro no

banco. Estes bens criam um ambiente propício a felicidade mas não

proporcionam mais do que conforto. Portanto, encontre tempo para ser amigo

de sua esposa, faça pequenas coisas um para o outro para mantê-los próximos

e íntimos. Tenham um casamento real e feliz!

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